sábado, 29 de abril de 2017

A CRÍTICA À DIALÉTICA HEGELIANA - MARX E ENGELS


          A pretensa ideia de reconciliar o pensamento filosófico marxista com a filosofia clássica alemã, tendo Hegel como seu principal expoente, não faz, de maneira nenhuma, progredir o marxismo-leninismo, mas o atrasa.  Primeiro, por que a crítica a Hegel é peça fundamental na concepção filosófica marxista. Segundo, pelo fato do atual momento existirem inúmeros ‘marxistas’ tentando fortalecer uma unidade com velhas idéias filosóficas, dando ao marxismo revolucionário um caráter eclético e incompreensível.
            Mesmo considerando a importância para o conhecimento da concepção filosófica marxista, o profundo estudo do pensamento hegeliano, é necessário ressaltar o que ambos tem em comum e o que, ao mesmo tempo, tem de diferentes. O marxismo, em filosofia, é a superação do hegelianismo. Ao mesmo tempo, é produto exatamente dessa crítica.
Resultado da obra de dois grandes expoentes do pensamento filosófico alemão, Karl Marx e Friendrich Engels, o materialismo dialético, expõe claramente as limitações da dialética hegeliana. Suas obras se complementam e harmonizam-se num único corpo teórico. O objetivo do presente artigo é contribuir para o entendimento do papel da filosofia hegeliana no pensamento marxista, partindo do pressuposto que, sem uma crítica precisa desta, também realizada por Ludwig Feuerbach, a concepção marxista não poderia ter existido.

A CRÍTICA DA FILOSOFIA ESPECULATIVA

            A filosofia busca conhecer a realidade como tal, desmitificando-a através do aprofundamento do conhecimento. Há a busca incessante de saber O QUE É, ou, o SER. Tal ideia atravessou toda a história da filosofia ocidental, pois conhecê-lo significa também SABER.
A Lógica Hegeliana parte do pressuposto, que o SER é o ‘começo’, ‘puro pensamento’, não ‘pode ser determinado por outra coisa tampouco pode ter determinação em si’. Não pode ter ‘fundamento’. Tal ideia dá ao ‘absoluto’ uma qualidade criadora e que determina todas as outras coisas. Esse, por sua vez, ‘começo abstrato’.1
Ao considerar o SER como o absoluto, não tendo conteúdo, produto do pensamento, Hegel  ‘inverte’ a realidade, dando ao ‘puro pensamento’ vida própria, podendo assim, a filosofia reconhecer o mundo não como ele é, mas como o movimento do pensamento nos apresente. O SER para Hegel só existe, assim, no pensamento, na ideia. Negando-o, temos o NADA, que pode se dizer o que é. Estes, num movimento permanente e ininterrupto “do abstrato ao concreto, do ideal ao real”2. O VIR-A-SER é a realidade objetiva pensada, refletida, determinada do movimento do SER.
Diferentemente, para Marx e Engels, o SER não é uma totalidade ou absoluto, da qual tudo passa dela a depender ou a ela submetido. Não é indeterminado, pois possui uma determinação histórica, passageira, efêmera, mas verdadeira, mesmo que temporariamente. Daí que na concepção dessa ontologia3, não existir no pensamento marxista uma definição apenas na abstração do que é o SER. Pensar é, mesmo que sobre o SER, predicado, o SER é objeto. A realidade, para Marx e Engels, é independente da ideia (existe fora do pensamento) que temos sobre ele, embora só o conheçamos quando o negamos, num processo permanente e ininterrupto.
Para a Dialética Materialista, a não-determinação do SER, torna a Dialética Hegeliana, mesmo racional e estruturada num Método enganador da realidade, pois se ao dizer o que é sobre algo, o mesmo só existe pelo movimento que o pensamento realiza sobre ele, não passa, assim, de ESPECULAÇÃO. Em resumo, o materialismo dialético reconhece o processo absolutamente importante da negação abstrata no pensamento, mas essa negação existe antes e primeiro fora do pensamento, pois só é pensada porque é independente dela, não o contrário. Ou, em outras palavras, pensamos sobre as coisas (a negação e o movimento delas) porque elas existem e estão em contradição na realidade antes de estarem no pensamento.
 Assim, nas palavras de Marx:“De um lado Hegel sabe representar o processo pelo qual passa de um objeto a outro através da intuição insensível e da representação, com maestria sofistica, como se fosse o processo do mesmo ser intelectivo imaginado, do sujeito absoluto. Mas depois disso, Hegel costuma oferecer, dentro da exposição especulativa, uma exposição real através do qual é possível captar a própria coisa. E esse desenvolvimento real dentro do desenvolvimento especulativo induz o leitor, equivocadamente, a tomar o desenvolvimento especulativo como se fosse real e o desenvolvimento real como se fosse especulativo”.(A Sagrada Família, Boitempo Editora, pág 75)
                                                                         
A AFIRMAÇÃO NO PENSAMENTO HEGELIANO

Por outro, Marx e Engels reconhecem no hegelianismo a forma do movimento do pensar humano sobre a realidade, exteriorização, ao abstrair-se dela, dando ao homem autonomia ‘dos espíritos fixos’, pela negação, ‘isto é suprasunção desta exteriorização’, efetiva externalização do pensar humano. Um grande avanço à filosofia anterior. Por isso, o movimento racional e lógico do pensamento hegeliano possibilitou uma crítica da filosofia anterior e, mais do que isso, deu ao ‘vir-a-ser’ um papel destacado. 
Diz Marx, “O positivo que Hegel aqui conseguiu – na sua lógica especulativa – é que os conceitos determinados, as formas do pensamento universais fixas, em sua autonomia diante da natureza e do espírito, são um resultado necessário do estranhamento universal da essência humana, portanto também do pensar humano e, que, Hegel os apresentou e reuniu, por isso, como momentos do processo de abstração”. (Manuscritos Economico Filosóficos, Boitempo editora, pág 135)
Ao mesmo tempo, a ideia da suprassunção ou tornar-se algo novo pela negação contraditória existente, o qual possui o seu passado ora negado ainda presente, que também será posteriormente vencido num fluxo permanente, dá ao ser humano uma nova perspectiva para instrumentalizar o conhecimento. O homem passa a questionar a realidade, mesmo que em Hegel num movimento puramente abstrato, e também a acreditar na sua capacidade de conhecer o mundo, desmitificando-o. Abre-se uma nova perspectiva para a Filosofia.
Afirma Marx: “O supra-sumir como movimento objetivo retomando de volta em si a exteriorização (Entausserung) – É este juízo (Einsicht), expresso no interior do estranhamento, da apropriação do ser (Wesen) objetivo mediante a suprassunção de seu estranhamento, o juízo estranhando na objetivação efetiva do homem, na apropriação efetiva de seu ser objetivo, mediante a eliminação da determinação estranhada do mundo objetivo, mediante sua supra-sunção na sua existência (Dasein) estranhada”. (Manuscritos Econômico Filosóficos, Boitempo editora, pág 135).
Embora pareça apenas um jogo de palavras, fica expresso nessa passagem o modelo ou forma (Método esse sistematizado por Hegel) de conhecimento adotado pelo Materialismo Dialético para conhecer a realidade, tomando-a em primeiro lugar. Lembremos que a obra acima citada possui tanto a afirmação quanto à crítica ao pensamento hegeliano.

O SER HUMANO, DETERMINAÇÃO E AUTOCONSCIÊNCIA

            Em virtude de não existir uma dissociação do método e conteúdo na filosofia marxista (mesmo admitindo-a formalmente para fins didáticos) a natureza da filosofia hegeliana, é idealista e especulativa. Por isso, não evoca o papel transformador humano como sendo o caminho objetivo da reflexão filosófica. Embora representando um avanço em relação à filosofia conservadora anterior, Hegel constrói uma concepção que torna a Filosofia num fluxo supervalorizado da abstração. A consciência, mesmo entendida no ‘Devir’ (movimento da transformação interior), pretende ser independente da realidade, tendo como substancia a própria estrutura e forma do pensamento, ou o ‘saber absoluto’. O movimento da consciência, mesmo que num fluxo contínuo de externalidade-internalidade, é substancialmente autoconsciente e o papel do sujeito é passivo.
            O pensamento de Marx e Engels, produto também da Crítica de Feuerabach sobre a Dialética Hegeliana, tornou-se uma forma de conhecimento sobre a realidade capaz não apenas de interpretar o mundo, mas também de modificá-lo. O sujeito pensante não é produto da abstração dele próprio ou da ‘verdade absoluta’, mas, ao contrario, resultado do mundo real, negado a partir do seu mundo subjetivado, o qual se encontra consigo mesmo, para negar seu papel, construindo sua história, e ao mesmo tempo, sua consciência. Nela, o homem é sujeito ativo, mesmo determinado historicamente, e não produto da sua autoconsciência.
Marx afirma: “Hegel faz do homem o homem da autoconsciência, em vez de fazer da autoconsciência a autoconsciência do homem, do homem real, e que, portanto, vive também em um mundo real, objetivo e se acha condicionado por ele. Ele vira o mundo de ponta-cabeça, o que lhe permite dissolver tanto na cabeça todos os limites, e isto os faz, naturalmente manter-se de pé para a má sensoriedade, para o homem real. Alem do mais, para ele vale como limite tudo o que denuncia a limitação da autoconsciência geral, toda a sensoriedade, a realidade e a individualidade do homem e de seu mundo” (A Sagrada Família, Boitempo Editora, pág 215)   -
            Por fim, em virtude dessa concepção sobre o ser humano, seu conhecimento sobre si mesmo, a filosofia de Hegel entra numa contradição. Ao negar todo dogmatismo anterior e reconhecendo a possibilidade de conhecimento do mundo através da ciência, a sua dialética concebe, na essência, um espírito absoluto. Seu começo, ser puro, indeterminado, interno do seu sistema de pensamento passa a ter, assim, vida própria, necessitando de nele mesmo acreditar sem uma razão própria de ser.
            Nas palavras de Engels: “Com isso, porém, proclama-se como verdade absoluta todo o conteúdo dogmático do sistema de Hegel - o que está em contradição com seu método dialético que se opõe a todo dogmatismo. Assim, o lado revolucionário da doutrina de Hegel morre asfixiado pelo seu lado conservador.” (Ludwig Feuerbach e o fim da Filosofia Clássica Alemã, Editorial "Avante!" - Edições Progresso Lisboa - Moscovo, 1982.)

1-      HEGEL, Georg W. Friedrich. Ciência da Lógica.Editora Barcarolla. 2011.
2-      KONDER. Leandro, O futuro da filosofia da Práxis. Rio de Janeiro, Paz e Terra. 1992
3-      Estudo do Ser no seu sentido abrangente

A VISÃO MARXISTA DO ESTADO E DEMOCRACIA EM ‘CRÍTICA À FILOSOFIA DO DIREITO DE HEGEL’


          Atualmente, muitos estão escandalizados com o grau de descumprimento de vários preceitos constitucionais, os excessos jurídicos, a grave situação da democracia, o aumento da repressão policial entre outras preocupações existentes na sociedade brasileira. Por trás delas, uma verdadeira ‘fé’ no chamando ‘Estado Democrático de Direito’, nas instituições republicanas que temos e nos princípios legais conquistados pela nossa última ‘Carta Magna de 1988’, a Constituição Cidadã, como é conhecida.
            Por outro lado, os ortodoxos defensores da ‘legalidade’ creem que a atual ordem jurídica do Estado brasileiro pode se resolver com modificações no aparelho estatal, impondo um regime rigoroso de controle, disciplina e investigação permanente, particularmente sobre as organizações políticas e seus representantes eleitos sob a palavra de ordem: ninguém está acima da lei! As elites, os corruptos e seus partidos que governam (mesmo aqueles que se venderam aos ricos empresários), se arrogam em atacar as  perseguições e mitificar as instituições democráticas, tendo utilizado todas as artimanhas para se beneficiar da posição privilegiada que ocupavam (e ainda ocupam a imensa maioria deles)  nos altos escalões da república.
O entendimento mais profundo desse debate é encontrado na obra marxista “Crítica à Filosofia do Direito de Hegel”, escrito em 1843. À época Karl Marx renunciava as visões hegelianas, criticava-as, e formatava uma concepção profunda sobre a sociedade. Sua visão era extirpar todos os preconceitos religiosos e míticos existentes no pensamento filosófico alemão a partir do modelo dialético hegeliano, resultante da crítica à metafísica anterior. A obra arranca de Hegel toda uma sistemática concepção do Estado e sua Estrutura, Direito, Estamentos e da Sociedade Civil, mas lhe impõe uma profunda crítica da visão mítica da sua ‘filosofia especulativa’, a qual partia do pressuposto de que a ‘IDEIA’, sua evolução, seu desenvolvimento e suas contradições, etc, moldavam a essência da realidade.
Assim, o pensamento de Marx adquire uma importância fundamental na crítica às velhas idéias seguidistas, crendices e míticas de um ‘Estado do Povo’ ou um ‘Estado a serviço de todos’, uma ‘democracia pura’ construída na evolução pacifica apenas dos debates das idéias, e seus reflexos nas instituições. Nele fica muito clara toda à sua concepção revolucionária da sociedade. O livro é um verdadeiro passo-a-passo, utilizando inúmeras passagens do livro ‘Princípios da Filosofia do Direito’ de Hegel, desmitificando cada parte, bem como reconhecendo os avanços trazidos pela visão dialética.

A SOCIEDADE CIVIL, DEMOCRACIA E CONSTITUIÇÃO POLÍTICA

            Sempre somos instados a ver no Estado e seus dirigentes nossos representantes. Pelo fato de serem eleitos, deveriam pois representar o interesse de todos. Isso ocorre porque existe uma separação entre a Sociedade Civil (forma organizada do povo não estatal, privado), a outra organização privada da sociedade, a FAMÍLIA e o aparelho ESTATAL, sua burocracia e instituições. Hegel entende a Sociedade Civil e a família como ‘partes do Estado’, divididos apenas pelo conceito e não pela realidade como tal.
            Marx afirma: Família e Sociedade Civil são apreendidas como esferas conceituas do Estado e, com efeito, como as esferas de sua finitude, como sua finitude. É o Estado que nelas se divide, o que as pressupõe; e ele o faz, em verdade...A ideia é subjetivada e a relação real da família e da sociedade civil com o Estado é apreendida como sua atividade interna imaginaria. Família e Sociedade Civil são os pressupostos do Estado; elas são os elementos propriamente ativos; mas, nas especulação, isso se inverte”. Mais: “Não é o seu próprio curso de vida (Sociedade Civil e Família) que as une ao Estado, mas é o curso da idéia que as discerniu de si; e, com efeito, elas são a finitude dessa ideia; elas são determinações postas por um terceiro, não autodeterminações”.(Págs 35 e 36)
            Em outras palavras, para o pensamento marxista foi o próprio desenvolvimento interno da organização social que gerou essa separação e não o desenvolvimento conceitual ou imaginário dessa sociedade. Essa é sua aparência, reflexo do real. Naturalmente, ao pensar assim, Marx afirma sobre Hegel “A pura idealidade de uma esfera real só poderia, contudo, existir como ciência...O importante é que Hegel, por toda a parte, faz da Ideia o sujeito e do sujeito propriamente dito, assim como da disposição política, faz o predicado. O desenvolvimento prossegue, sempre do lado do predicado”. (pag 38)
Posteriormente, em outras obras, Marx prova que o processo de separação entre sociedade civil, família e Estado se deu no processo do desenvolvimento da vida econômica, nas suas contradições internas. O produto conceitual é resultado, naturalmente, disso, e não o inverso. As instituições políticas são produtos passivos da sociedade, resultantes das lutas sociais e das forças delas resultantes. Ao mesmo tempo, Marx acrescenta um imenso avanço trazido pela concepção helegiana, a concepção ‘ORGÂNICA’ do Estado, pois mesmo considerando um desenvolvimento ideário, Hegel toma esses aspectos num todo:  “é um grande progresso tratar como organismo”.
Em geral, se toma os interesses gerais do Estado como os interesses da sociedade (família e sociedade civil), ou o que se chamaria de interesse público. Isso não passa de uma ilusão. O Estado, separado dos demais, é produto das inter-relações sociais (contraditória e divida tão quanto à propriedade privada em seu seio) e seu desenvolvimento, é, pois, apenas uma visão aparente, superficial, não completa. Na realidade, os dirigentes não podem representar senão tais contradições, as quais devem ser resolvidas dentro da própria sociedade numa intensa Luta de Classes.
Outra das formas de mitificação do Estado está a Constituição Política e a ideia de Democracia. Hegel pretende, com a ciência jurídica e sua evolução conceitual, dar à Constituição Democrática (mesmo que no caso, ele a veja mesmo numa monarquia) um meio de moldar o conjunto dos estamentos* sociais.
Numa passagem irônica, combatendo essa concepção, Marx afirma: “A democracia, em um certo sentido, está para outras formas de Estado como o cristianismo para as outras religiões. O cristianismo é a religião, a essência, o homem deificado como uma religião particular. A democracia é assim, essência de toda constituição política. O homem socializado com uma constituição particular é; ela se relaciona com as demais constituições como gênero com suas espécies, mas o próprio gênero aparece aqui como existência e, com isso, como uma espécie particular, em face das existências que não contradizem a essência. A democracia relaciona-se com todas as outras formas de Estado como com o seu velho testamento. O homem não existe em razão da lei, mas a lei existe em razão do homem; e a existência humana, enquanto as outras formas de Estado como com o seu velho Testamento... a constituição política foi reduzida à esfera religiosa, a religião da vida do povo, o céu da sua universalidade em existência terrena de sua realidade”. (Pag 56 e 57)
Nesse importante raciocínio, fica claro que a ideia de uma Democracia no âmbito do Estado, é uma ficção. Não se pode existir ‘governo do povo’, pois, sendo um regime do Estado, esse é separado do povo. Na essência do estado está a separação, e só pode ser resolvida numa nova organização social em que o Estado deixe de existir enquanto tal. Até isso ocorre, a constituição democrática não passará de uma Bíblia para os crentes da democracia.

BUROCRACIA E PODER

Hegel atribui papel destacado à burocracia na administração do Estado. O exercício do poder, para ele, estaria liberto de excessos, se existisse uma ética nos representantes do Estado. Seria a função pública um ‘dever’, a vocação dos funcionários do Estado. Ao mesmo tempo, o exercício do direito das ‘corporações’(organismos de administração próximas da população) e uma rigorosa hierarquia estatal sob a tutela do poder soberano do monarca serviria para impedir “aristocracia e a dominação”.
Explicando o pensamento hegeliano, Marx afirma: “ A burocracia é o formalismo da sociedade civil. Ela é a ‘consciência do Estado’, a ‘vontade do Estado’, a ‘potência do Estado’...a burocracia deve, portanto, proteger toda a universalidade imaginaria do interesse particular, o espírito corporativo, a fim de proteger a particularidade imaginaria do interesse universal, seu próprio espírito” (pag 70). Mais: “Hegel nos dá uma descrição empírica da burocracia, em parte como ela realmente é, em parte segundo a opinião que ela tem de seu próprio ser”. (Pag70)
A concepção marxista desconstrói todo o mito de uma burocracia a serviço do povo. Embora reconheça o papel de serviços essenciais à vida da população, por serem instrumentos ‘públicos’ do Estado, não passam de ilusórias no sentido de escamotear a separação completa entre a sociedade e o próprio Estado.
Afirma: “A burocracia é o Estado imaginário ao lado do Estado real, particular, o espiritualismo do Estado...Por isso o espírito público do Estado, assim como a disposição política aparecem para a burocracia como uma traição do seu mistério. A autoridade é, portanto, o principio de seu saber e o culto à autoridade é a sua disposição”. (Pag72). “A supressão da burocracia só pode se dar contanto que o interesse universal se torne realmente – e não, como em Hegel, apenas no pensamento, na abstração – interesse particular, o que é possível apenas contanto que o interesse particular se torne universal.” (Pag 73)
É importante ressaltar que aqui Marx trata de toda legião de funcionários, em todos poderes da república, e estruturas de poder vinculadas ao poder centralizado. É como se fosse uma ‘capa protetora’ de uma estrutura erguida sobre a autoridade dos dirigentes, numa hierarquia concreta, para submissão imposta aos membros da sociedade. Não é da essência do ESTADO a proteção dos cidadãos, é, pois, o seu controle e imposição, tendo assim que constituir um conjunto de instituições burocratizadas e racionalmente constituídas, uma aparência diferente do que ele é realmente. O fim último é o poder!
Para o exercício do poder e atribuições fins do Estado, ou nas palavras de Marx, para a defesa da “propriedade privada como a categoria universal , o liame Universal do Estado” (pag130), é preciso um conjunto de leis, que, regulamentam a vida social, passam a ter uma vida ‘espiritual’ própria, parecendo estar acima da própria sociedade. Essa lei garante aos cidadãos os ‘direitos’ de membros do Estado, lhes aparentando como parte dele, gerando em sua consciência uma unidade orgânica. A lei é a mediação entre o cidadão e o Estado.
É absolutamente comum entre os representantes do Estado a defesa da‘legalidade’. Numa total demagogia, a defesa das instituições e leis escondem os reais interesses daqueles que realmente dominam o Estado: a perpetuação dos privilégios e a defesa da propriedade. Mesmo que num determinado momento parte da burocracia e outras estruturas do Estado estejam ocupadas por parcelas da sociedade civil, isso não muda sua essência.

A RESOLUÇÃO DO ESTADO

            Separados do ESTADO, os que produzem as riquezas (trabalhadores, a maioria da sociedade) devem se organizar para não apenas democratizá-lo, pois, sua natureza é oposta à democracia. Para tanto, devem tomar consciência dessa estrutura, constituir-se enquanto partido político, tomar o poder, organizar a economia para finalizar a propriedade privada dos meios de produção, socializando assim a riqueza, e só assim, eliminar toda essa estrutura.
            No apêndice do livro, Marx nos dá belíssimos ensinamentos históricos e combate quaisquer idéias de reformas sociais. Primeiro, sobre a forma de fazer, na paz ou na luta:
            “A arma da crítica não pode, é claro, substituir a critica da arma, o poder material tem de ser derrubado pelo pode material, mas a teoria também se torna força material quando se apodera das massas”. (pag157)
            Segundo, sobre qual classe pode acabar com as injustiças e agruras:
            “Na formação de uma classe com grilhões radicais, de uma sociedade civil que não seja classe da sociedade civil, de um estamento que seja a dissolução de todos os estamentos, de uma esfera que possua um caráter universal mediante seus sofrimentos universais e que não reivindique nenhum direito particular porque contra ela não se comete injustiça particular, mas a injustiça por excelência, que já não possa exigir um titulo histórico, mas apenas o titulo humano...que não pode se emancipar sem se emancipar de todas as esferas da sociedade, com isso, emancipar todas essas esferas – uma esfera que é, numa palavra, a perda total da humanidade e que, portanto, só pode ganhar a si mesma por um reganho total do homem. Tal dissolução da sociedade, como um estamento particular, é o proletariado”. (Pag 162)
            Terceiro, qual instrumento para a crítica das idéias:
            “Assim como a filosofia encontra suas armas materiais no proletariado, o proletariado encontra suas armas espirituais na filosofia, e tão logo o relâmpago do pensamento tenha penetrado profundamente nesse ingênuo solo do povo, a emancipação se completará”. (Pag 162)
              
*Crítica à Filosofia do Direito de Hegel, Boitempo Editora, 3ª. Edição, maio 2013;
** Constitui uma forma de estratificação social com camadas mais fechadas do que classes sociais, e mais abertas do que as castas;

sexta-feira, 28 de abril de 2017

MAIS DE 10,5 MILHÕES DE TRABALHADORES ADERIRAM À GREVE GERAL ATE AGORA!


Conforme relatos de sindicatos e Centrais Sindicais, a greve convocada contra as Reformas Trabalhista e Previdenciária já atinge quase 19% dos trabalhadores que possuem carteira assinada no país. Essa pode ser a maior, em números absolutos, paralisação realizada no Brasil.

     Confira as categorias que mais paralisaram, segundo estimativas:

Trabalhadores em Educação (Professores e funcionários) – 4,5 milhões
Comerciários – 2,8 milhões
Servidores Públicos (Estaduais, Federais e Municipais) – 2,2 milhões
Rodoviários – 430 mil
Bancários – 100 mil
Trabalhadores Agrícolas – 85 mil
Operários Industriais  (incluindo Petroleiros) – 58 mil
Aeroportuários – 800
Aeroviários – 400

Outras categorias – 350 mil

MAIS DE 10,5 MILHÕES DE TRABALHADORES ADERIRAM À GREVE GERAL ATE AGORA!

            

Conforme relatos de sindicatos e Centrais Sindicais, a greve convocada contra as Reformas Trabalhista e Previdenciária já atinge quase 19% dos trabalhadores que possuem carteira assinada no país. Essa pode ser a maior, em números absolutos, paralisação realizada no Brasil.

     Confira as categorias que mais paralisaram, segundo estimativas:

Trabalhadores em Educação (Professores e funcionários) – 4,5 milhões
Comerciários – 2,8 milhões
Servidores Públicos (Estaduais, Federais e Municipais) – 2,2 milhões
Rodoviários – 430 mil
Bancários – 100 mil
Trabalhadores Agrícolas – 85 mil
Operários Industriais  (incluindo Petroleiros) – 58 mil
Aeroportuários – 800
Aeroviários – 400

Outras categorias – 350 mil

sábado, 1 de abril de 2017

É POSSÍVEL ESCREVER EM 2017 UM NOVO FUTURO PARA O BRASIL!

                            A imagem pode conter: 2 pessoas, pessoas sorrindo, atividades ao ar livre

         Quase um ano após o golpe parlamentar que destituiu Dilma Rousseff vemos acumular ataques às conquistas que vieram com a constituição de 1988. A verdade é que a crise capitalista, a maior da nossa história, desesperou os grandes empresários que capitanearam um conjunto de reformas políticas e sociais que praticamente retrocedem o nosso país em 50 anos. Temer, o Congresso Nacional e a Justiça não passam de instrumentos das classes dominantes nessa empreitada.
        Naturalmente, a resistência do povo tem crescido. Mas, é bom lembrar que estamos nas ruas contra essas medidas, não por novos direitos. Não há uma OFENSIVA dos trabalhadores. Aliás, as pequenas conquistas dos últimos 15 anos, resultados de programas sociais e não de medidas estruturais de nossa economia, viraram pó. O fato é que em pouco tempo, uma boa parte das classes exploradas perceberam a situação e, agora, se mobilizam de forma mais enfática se unindo numa única palavra de ordem: FORA TEMER.
          Entretanto, a história socialista nos ensina que, em política, “é preciso ser revolucionário e não reformista” (J. Stalin). Nosso país é dominado por grandes monopólios nacionais e internacionais, possui uma estrutura agrária concentradora, é totalmente dependente tecnologicamente e, principalmente, o poder estatal é um satélite dos banqueiros, tendo o capital financeiro completo controle sobre a política econômica. Alias, essas reformas visam aprofundar esse controle do mercado financeiro sobre a nação. Ao mesmo tempo, esse projeto não é nem nunca foi de curto prazo. Os planos hoje implementados são cópias deformadas dos projetos neoliberais propostos pelos Chicago Boys, responsáveis pela total decadência da economia norte-americana.
       Não é possível, assim, pensar nosso país como se pudéssemos repetir as medidas social-democratas que outrora se realizaram. Reeditar um novo ciclo de crescimento econômico capitalista no Brasil num momento em que a economia mundial ‘patina’ com o retorno do protecionismo norte-americano e europeu, a queda do crescimento chinês e a guerra comercial que se anuncia, não passa de um ‘sonho numa noite de verão’.

           A verdade é que precisamos construir agora, ou pelo menos iniciar, um novo caminho para os explorados, em particular a classe operária brasileira. 2017 pode ser esse ‘pontapé inicial’. Para tanto, tomar as ruas e realizar greves são necessidades e exigências do momento. Mas é insuficiente! É URGENTE uma nova organização política, um instrumento de transformação e coesão dos trabalhadores conscientes, capaz de realizar uma granítica UNIDADE POPULAR na base de um programa SOCIALISTA. Sigamos firmes na luta, sigamos unidos, sigamos no RUMO da REVOLUÇÃO.