segunda-feira, 28 de novembro de 2016

CARTA AO CAMARADA FIDEL


       Já não poderá ler essa carta, comandante, mas isso não importa. Pelo que sei já não esta mais entre nós. Durante seus 90 anos seguiu os passos dos grandes libertadores e viveu na mais completa humildade, otimismo e fidelidade às suas idéias. Num mundo em que as posses se tornaram o principal na vida dos seres humanos você viveu de forma recatada e simples numa moradia sem qualquer luxo para uma liderança de sua magnitude. Essa é sua maior característica: doou todo seu tempo sem pedir nada em troca.
            Lembro de uma velha história daqueles dias tristes após a queda do muro de Berlim em uma de tantas viagens que você fez à Russia. Se encontrou com tantos dirigentes comunistas, foi levado a bares e restaurantes já privatizados, andou em carros luxuosos mas não conseguiu identificar um velho camarada. Pediu aos seus conselheiros que achassem a casa desse antigo amigo porque já não era da direção do partido. Foi informado que ele estava doente e já não poderia sair de casa. Como sempre, comandante, não tardou a atravessar mais uma porta de uma humilde casa, naquele momento, na periferia de Moscou. Ouviu desse antigo amigo que não aceitava aquela corrupção desenfreada ocorrida na URSS e preferiria morrer como havia entrado no partido. Você então se emocionou e deixou uma ajuda para um comunista abandonado.  
            Assim foi sempre na sua história. Jamais aceitou uma injustiça! Foi um afável lutador e amigo. Nas épocas da Sierra, sempre teve tempo de cultivar grandes sentimentos de alegria e fraternidade com os maiores expoentes da libertação cubana. Você, pode-se dizer, não pertence ao nosso tempo. Sua imagem e seu exemplo pertencem ao futuro.
            Lembro-me também quando se emocionou ao recepcionar os milhares de soldados cubanos que haviam sido destacados para apoiar a libertação das nações africanas. Antes mesmo de os motores dos aviões terem esfriando, você disse ao mundo: “o orgulho de vocês, militares revolucionários cubanos, o orgulho que nos deram a todo o povo de Cuba, foi terem ido lutar de forma digna e sem pretensões. Muitos caíram em combate, são heróis da nossa revolução. Aqueles que estão aqui, não trazem consigo uma única pepita de ouro ou diamante. Esse é nosso exemplo de internacionalismo”.
            Tanto esforço, mas para que? Não deixou nenhuma herança a seus filhos. Não tem uma única conta para seus parentes usufruírem na Europa ou na América. Não viveu em palácios, não andava em carros de luxo. Não é possível recordar quantas vezes você repreendeu aqueles que queriam lhe transformar em um super-homem. Mesmo assim, pensaram em denegrir sua imagem, mas você encarna o melhor do ser humano. Você não teve pátria, camarada, foi um amante e serviçal da humanidade.
Não poderia deixar de agradecer, como brasileiro, a você e ao povo cubano, pelos milhares de médicos que atualmente já atenderam e ainda atendem nosso povo. Muito Obrigado!  
Sua dedicação incontestável e seu caráter, sem duvida, será lembrado por séculos. Por fim, embora seja presidente, líder e herói, pra mim, você se resume por uma única palavra: COMPANHEIRO. Hasta La Victoria!

            

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