Já
não poderá ler essa carta, comandante, mas isso não importa. Pelo que sei já não
esta mais entre nós. Durante seus 90 anos seguiu os passos dos grandes
libertadores e viveu na mais completa humildade, otimismo e fidelidade às suas idéias.
Num mundo em que as posses se tornaram o principal na vida dos seres humanos
você viveu de forma recatada e simples numa moradia sem qualquer luxo para uma
liderança de sua magnitude. Essa é sua maior característica: doou todo seu
tempo sem pedir nada em troca.
Lembro de uma velha história daqueles
dias tristes após a queda do muro de Berlim em uma de tantas viagens que você
fez à Russia. Se encontrou com tantos dirigentes comunistas, foi levado a bares
e restaurantes já privatizados, andou em carros luxuosos mas não conseguiu
identificar um velho camarada. Pediu aos seus conselheiros que achassem a casa
desse antigo amigo porque já não era da direção do partido. Foi informado que
ele estava doente e já não poderia sair de casa. Como sempre, comandante, não
tardou a atravessar mais uma porta de uma humilde casa, naquele momento, na
periferia de Moscou. Ouviu desse antigo amigo que não aceitava aquela corrupção
desenfreada ocorrida na URSS e preferiria morrer como havia entrado no partido.
Você então se emocionou e deixou uma ajuda para um comunista abandonado.
Assim foi sempre na sua história.
Jamais aceitou uma injustiça! Foi um afável lutador e amigo. Nas épocas da
Sierra, sempre teve tempo de cultivar grandes sentimentos de alegria e
fraternidade com os maiores expoentes da libertação cubana. Você, pode-se
dizer, não pertence ao nosso tempo. Sua imagem e seu exemplo pertencem ao
futuro.
Lembro-me também quando se emocionou
ao recepcionar os milhares de soldados cubanos que haviam sido destacados para
apoiar a libertação das nações africanas. Antes mesmo de os motores dos aviões terem
esfriando, você disse ao mundo: “o orgulho de vocês, militares revolucionários
cubanos, o orgulho que nos deram a todo o povo de Cuba, foi terem ido lutar de
forma digna e sem pretensões. Muitos caíram em combate, são heróis da nossa
revolução. Aqueles que estão aqui, não trazem consigo uma única pepita de ouro
ou diamante. Esse é nosso exemplo de internacionalismo”.
Tanto esforço, mas para que? Não
deixou nenhuma herança a seus filhos. Não tem uma única conta para seus
parentes usufruírem na Europa ou na América. Não viveu em palácios, não andava
em carros de luxo. Não é possível recordar quantas vezes você repreendeu
aqueles que queriam lhe transformar em um super-homem. Mesmo assim, pensaram em
denegrir sua imagem, mas você encarna o melhor do ser humano. Você não teve pátria,
camarada, foi um amante e serviçal da humanidade.
Não
poderia deixar de agradecer, como brasileiro, a você e ao povo cubano, pelos
milhares de médicos que atualmente já atenderam e ainda atendem nosso povo.
Muito Obrigado!
Sua
dedicação incontestável e seu caráter, sem duvida, será lembrado por séculos. Por
fim, embora seja presidente, líder e herói, pra mim, você se resume por uma
única palavra: COMPANHEIRO. Hasta La Victoria!
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