segunda-feira, 10 de outubro de 2016

CRIME ORGANIZADO, MILÍCIAS E A MUDANÇA NAS FAVELAS DE FORTALEZA


          A violência urbana e o tráfico de drogas se transformaram em negócios lucrativos no país. No ceará não é diferente. O desenvolvimento de grupos organizados de bandidos, comumente chamados de ‘Crime Organizado’ está crescendo continuada e constantemente no Estado. Naturalmente, com o mercado expansivo de drogas, a lógica mais empresarial está transformando o ‘submundo’ criminoso, especialmente na cidade de Fortaleza.
        Os territórios estão em uma nova disputa. De um lado, as Milícias, com a participação de grupos paramilitares, utilizando o grau de insegurança dos bairros mais pobres para extorquir dinheiro dos comerciantes. De outro, os grupos Primeiro Comando da Capital e Comando Vermelho, hoje trabalhando em parceria para ‘pacificar’ e permitir o comercio de drogas tranquilamente. Nos casos do PCC e CV, quanto menos disputas de grupos rivais, assassinatos e presença policial melhor.
Em matéria publicada pelo site El Pais, de autoria de Gil Alesi, a pacificação está reduzindo drasticamente os homicídios na capital. Nos sete primeiros meses de 2015 em comparação com os primeiros sete meses de 2016, a redução é de 37,6% somente em Fortaleza. Visão compartilhada pelo professor Luiz Fábio, professor do departamento de Ciências Sociais da UFC e pesquisador do Laboratório de Estudos de Violência: “não é algo que tem a ver com novidades no campo da segurança pública, nada de novo tem sido feito na área que possa justificar os dados”. Ele conclui: “não é possível precisar a porcentagem de favelas pacificadas, mas escutamos relatos de todas as áreas da cidade de Fortaleza”.
Ao mesmo tempo, as milícias estão em operação e, às vezes, com embates com os grupos traficantes. Diferentemente da ‘paz’ procurada pelos grupos PCC e CV, as milícias realizam execuções e um sistema de segurança paraestatal. Isso quer dizer que lucram com os roubos, assaltos e mortes. Quanto mais medo existir, melhor para garantir o financiamento desses grupos. Os grupos milicianos assassinaram em abril de 2016 o “Carlinhos”, irmão de ‘Joãozinho Catanã’, miliciano, ex-sargento da PM que foi assassinado em 2015. Carlinhos teria herdado a milícia.
Há quase 1 ano, 11 jovens foram assassinados no bairro Curió, gerando pânico na comunidade. Eles não tinham passagem pela policia e a ação miliciana foi uma vingança pela morte do policial Valteberg Chaves. Esse foi um dos momentos de divergência entre os grupos milicianos e o tráfico de drogas, embora à época o processo de pacificação estava apenas iniciando e o bairro Curió não fosse um dos principais para o PCC e CV. É provável que esse foi um dos fatores que acelerou a unificação de grupos criminosos, especializando a venda de drogas e evitando crimes para atrair a atenção da policia.
Outro exemplo que corrobora para essa situação foram os ataques a prédios e queima de ônibus em abril realizado pelo PCC. Em nota divulgada, o CV informou que não teve participação nos ataques. No mesmo mês o governador recebeu carta de ameaças. As investigações da Secretaria de Segurança Publica provam que a organização dos crimes partiu dos presídios cearenses.
Fora isso, grupos milicianos, PCC e CV financiaram políticos na última eleição. A meta era eleger 10 prefeitos e 50 vereadores. Para isso, financiaram pesadamente, mas não se sabe se obtiveram vitória. Pelo seu grau de organização e a promiscua eleição existente, é provável que tiveram algum êxito. De qualquer forma, o povo está, como sempre sob ameaça, aguardando o dia em que os interesses desses grupos estejam em disputa violenta pelo mercado de drogas e controle dos territórios das periferias.
                A idéia de uma sociedade sem violência com a intensificação dos aparatos de repressão não passa, assim, de falácia. O problema é muito mais profundo e não terá solução fácil.

Fonte: http://brasil.elpais.com/brasil/2016/08/19/politica/1471617200_201985.html

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