A violência urbana e o tráfico de
drogas se transformaram em negócios lucrativos no país. No ceará não é
diferente. O desenvolvimento de grupos organizados de bandidos, comumente
chamados de ‘Crime Organizado’ está crescendo continuada e constantemente no
Estado. Naturalmente, com o mercado expansivo de drogas, a lógica mais
empresarial está transformando o ‘submundo’ criminoso, especialmente na cidade
de Fortaleza.
Os
territórios estão em uma nova disputa. De um lado, as Milícias, com a
participação de grupos paramilitares, utilizando o grau de insegurança dos
bairros mais pobres para extorquir dinheiro dos comerciantes. De outro, os
grupos Primeiro Comando da Capital e Comando Vermelho, hoje trabalhando em
parceria para ‘pacificar’ e permitir o comercio de drogas tranquilamente. Nos
casos do PCC e CV, quanto menos disputas de grupos rivais, assassinatos e presença
policial melhor.
Em matéria publicada pelo site
El Pais, de autoria de Gil Alesi, a pacificação está reduzindo drasticamente os
homicídios na capital. Nos sete primeiros meses de 2015 em comparação com os
primeiros sete meses de 2016, a redução é de 37,6% somente em Fortaleza. Visão compartilhada
pelo professor Luiz Fábio, professor do departamento de Ciências Sociais da UFC
e pesquisador do Laboratório de Estudos de Violência: “não é algo que tem a ver
com novidades no campo da segurança pública, nada de novo tem sido feito na
área que possa justificar os dados”. Ele conclui: “não é possível precisar a
porcentagem de favelas pacificadas, mas escutamos relatos de todas as áreas da
cidade de Fortaleza”.
Ao mesmo tempo, as milícias
estão em operação e, às vezes, com embates com os grupos traficantes.
Diferentemente da ‘paz’ procurada pelos grupos PCC e CV, as milícias realizam execuções
e um sistema de segurança paraestatal. Isso quer dizer que lucram com os
roubos, assaltos e mortes. Quanto mais medo existir, melhor para garantir o
financiamento desses grupos. Os grupos milicianos assassinaram em abril de 2016
o “Carlinhos”, irmão de ‘Joãozinho Catanã’, miliciano, ex-sargento da PM que
foi assassinado em 2015. Carlinhos teria herdado a milícia.
Há quase 1 ano, 11 jovens foram
assassinados no bairro Curió, gerando pânico na comunidade. Eles não tinham
passagem pela policia e a ação miliciana foi uma vingança pela morte do
policial Valteberg Chaves. Esse foi um dos momentos de divergência entre os
grupos milicianos e o tráfico de drogas, embora à época o processo de
pacificação estava apenas iniciando e o bairro Curió não fosse um dos
principais para o PCC e CV. É provável que esse foi um dos fatores que acelerou
a unificação de grupos criminosos, especializando a venda de drogas e evitando
crimes para atrair a atenção da policia.
Outro exemplo que corrobora para
essa situação foram os ataques a prédios e queima de ônibus em abril realizado
pelo PCC. Em nota divulgada, o CV informou que não teve participação nos
ataques. No mesmo mês o governador recebeu carta de ameaças. As investigações
da Secretaria de Segurança Publica provam que a organização dos crimes partiu dos
presídios cearenses.
Fora isso, grupos milicianos,
PCC e CV financiaram políticos na última eleição. A meta era eleger 10
prefeitos e 50 vereadores. Para isso, financiaram pesadamente, mas não se sabe
se obtiveram vitória. Pelo seu grau de organização e a promiscua eleição
existente, é provável que tiveram algum êxito. De qualquer forma, o povo está,
como sempre sob ameaça, aguardando o dia em que os interesses desses grupos
estejam em disputa violenta pelo mercado de drogas e controle dos territórios
das periferias.
A
idéia de uma sociedade sem violência com a intensificação dos aparatos de repressão
não passa, assim, de falácia. O problema é muito mais profundo e não terá
solução fácil.
Fonte: http://brasil.elpais.com/brasil/2016/08/19/politica/1471617200_201985.html
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