O amedrontado Ministro da Educação
As milhões de pessoas que foram às ruas defender a deposição de Dilma
Roussef devem estar vibrando com a nova proposta de ensino médio apresentada
pelo ministro golpista Mendonça Filho. Ou, até algumas delas, chorando de
arrependimento. Pela visão retrógrada de boa parte da classe média e das elites,
o que se pretende é ‘desideologizar’ a educação brasileira. Muitos cartazes e
faixas nas manifestações apresentavam a seguinte palavra de ordem: “Chega de
Doutrinação Marxista. Basta de Paulo Freire!” numa clara demonstração de histeria
conservadora aliada à ignorância científico-pedagógica.
Pior. A mudança
veio por Medida Provisória. Não teria o ministro como ir debater essa proposta
com os educadores nas universidades? Nas secretarias estaduais de educação pelo
país afora? Na verdade, ele não poderia, pois não agüentaria as vaias. Preferiu
editar um texto no seu gabinete, modificando uma metodologia de ensino que
atinge milhões de jovens e suas expectativas de futuro, clarificando qual caráter
tem esse governo.
Vejamos a proposta do governo temeroso. Diz ser
algo novo. Bem, flexibilizar o ensino médio brasileiro e torná-lo ‘eficiente’
nada mais é da velha máxima de educar para o mercado de trabalho. Segundo a
medida provisória, o currículo terá 50% de flexibilização de disciplinas
conforme uma Base Nacional Curricular Comum
(BNCC) ainda em estudo pelo governo. Além disso, abre a possibilidade de
modular o ensino. Em outras palavras, poderá
ser ofertando disciplinas em módulo: período em matemática, encerra-se; abre
período em linguagens e códigos, encerra-se; abre período em história, e assim
sucessivamente. As especificações caberão às secretarias de educação dos
estados. Fica claro, que tal modelo toma como parâmetro a educação técnica e
profissionalizante, tornando o ensino mais especializado e menos generalista,
com a intenção de impedir o ensino mais regular de disciplinas ‘aparentemente’
menos necessárias como história, geografia, etc. Por outro lado, as próprias
disciplinas profissionalizantes terão o mesmo peso das outras áreas de
conhecimento.
Tem mais. Hoje, os professores são obrigados a
terem diploma na área pedagógica e com especializações ascendem na carreira.
A MP afirma que poderão ser lecionadas as disciplinas por “profissionais com notório
saber reconhecidos pelos sistemas de ensino para ministrar conteúdos de áreas afins
à sua formação”. O que isso quer dizer? Professores de história podem ministrar
aulas de geografia, e também de filosofia; professores de matemática lecionarão
física e química, etc. Sabe-se que essa realidade já existe no Brasil pela ausência
de profissionais formados em várias áreas, mas agora será oficial, e piorará
muito essa situação. Mais do que isso: professores serão contratados com a
missão de ministrar 3 ou 4 disciplinas, diminuindo sua eficiência e precarizando as relações de trabalho dentro das escolas.
A cereja do bolo é tornar os ensinos de educação
física, artes, filosofia e sociologia como ‘não obrigatórias’. Isso porque
reside aí o ‘cerne’ da esquerdização estudantil. Isso mesmo. De uma canetada
apenas, destruíram uma conquista de vários anos dos educadores brasileiros. O
governo ilegítimo pretende arrancar a criticidade que resiste na educação
brasileira de um golpe só. Faltou combinar com os educadores. Essa reforma que
aguarde!
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